segunda-feira, 2 de abril de 2012

Desistir da esperança de uma possível tentativa para um sonho é para os fracos!

      Meu dia, não importaria nem pensar nele, por mais cansativo, desgastante, desagradável ou até mesmo frustrante que ele pudesse ter sido, ou não, só o que importava agora era o jantar, que a essa hora já estava todo pronto, somente a espera da hora em que ele adentrasse as portas da casa. Um de seus pratos, obviamente, favoritos havia sido cuidadosamente preparado. Tudo para vê-lo comer, apreciar cada momento a deliciar-se com aquele pequeno símbolo de minha afeição.

      Finalmente, poder ver aquele rosto, inexpressivo quanto a minhas demonstrações de alegria por simplesmente ver a sua face. Auxiliar-lhe na sua volta pra casa, guardar suas coisas em seu escritório, dar-lhes seus chinelos favoritos, ligar a TV, localizar o controle, servir-lhe o jantar, manter-lhe o copo cheio, sentar no sofá ao seu lado e poder enfim observa-lo alimentar-se, gargalhar de seus programas na tv, descansar de seu terrível dia relaxando em seu seguro lar. Ao meu lado.
Então. Sair de seu lado, relutante. Mas a necessidade me obriga a distanciar-nos novamente, mesmo que por um breve ardo momento. Ajeitar seu banho, suas roupas usadas e as que usará em cada devido momento. Cruzar com sua presença muda pelos corredores, ver suas costas distanciar-se, como sempre na espera de que se virasse pra encontrar meu olhar. Limpar toda a louça, cozinha e sala ao som de seu revitalizante banho. Deixando a ansiedade me dominar toda vez que o continuo som de água a bater em seu corpo era suspenso.
      Ao fim de seu banho e de meu trabalho, vê-lo deitado na cama e dar-me o melhor banho que o mais curto tempo me limpasse o corpo por completo. Então. Finalmente. Estar ao seu lado, sem mais nada a fazer ou pensar. Ali deitados, a descansar, quase poder sentir sua presença na escuridão de nosso quarto sem nem mesmo tocá-lo. Finalmente poder acariciar-lhe o ombro, temerosamente. E, como costumeiramente, ser parada por um balanço rígido do ombro livrando-se de minha mão. Uma única ríspida frase "Amanhã eu trabalho, preciso dormir!" e todos os meus defeitos eram expostos em uma densa nuvem de pensamentos tortuosos.
      Não sabia exatamente o que lhe havia feito para que me rejeitasse continuamente, mas algo inquestionavelmente havia sido feito para estragar-lhe o dia, mais uma vez. Ao menos um dos defeitos eu podia ter o conhecimento pleno de sua existência em mim, a incapacidade de fazer-lhe feliz por completo. Por mais que os dias passassem, tudo apontava para essa infeliz certeza. Logo na escuridão de uma lágrima silenciosa que caia entre o abismo entre a sua felicidade e a nossa, ainda tentava sobreviver a inútil tentativa  de dormir pra poder esquecer meus próprios estorvos nas profundezas de uma eterna esperança de ao menos conseguir sempre sonhar o doce sonho de ter ao menos meu rosto tocado pelo veludo das pontas dos dedos de suas mãos calejadas mais uma vez.

3 comentários:

  1. Uma coisa é certa: só nós sabemos realmente quando e se existe uma hora de parar. Às vezes a força não se encontra bem no ato de se libertar das amarras e mudar a nossa realidade... mas sim em conseguir suportar a dor do aperto em nossos pulsos por um bem que ainda nos parece maior. Afinal, devemos essa honestidade a nós mesmos.

    E é o que eu vejo nessa mulher da história, desejosa pela felicidade, incapaz de concebê-la e, ainda assim, satisfeita pelos pequenos prazeres que esse homem quase inexistente consegue provocar nela.

    Isso não é pra qualquer um. Eu jamais conseguiria lidar com uma situação assim, meu instinto sempre me aciona para que eu arranque as amarras fora, mesmo que eu as deixe doendo por um tempo. Nem eu e nem minhas personagens, acho.

    Enfim, acabei escrevendo outro texto..... XD Muito bonito, profundo e totalmente depressivo como sempre, Danzinho. Realmente me lembra o clima introspectivo de Clarice Lispector. Muito bom!

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  2. Uma felicidade clandestina. É uma realidade de muitos, e que realmente poucos conseguem viver e ainda sim, não desistir desse raio de esperança que uma pequena felicidade trás.
    Dan, confesso que li avidamente seu conto, desde a primeira linha você soube como surpreender com o cotidiano esquecido e prender o leitor. Fez com que algo aparentemente clichê, tivesse um desfecho apaixonante. Lidar com o clichê é dificil, com o sofrimento ainda mais, porém, você me surpreendeu com seu texto. Muito bom, mesmo.
    Tb trabalhou muito bem a subjetividade, não ficou um texto dificil, mas com certeza, refinado. O toque secreto. *-*

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  3. De fato existe um certo charme no sofrer, no poder saber o que a pessoa amada gosta, e fazer de um tudo por ela, dentro da rotina apresentada nesse texto. e na vida de qualquer um, mas como Afonso disse é uma coisa pra poucos...
    A vontade de ser feliz uma hora toma conta dos nossos esforços fracassados perante a infelicidade que proporcionamos à pessoa amada, quando está já está fora do alcance de nossos predicados amorosos.

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