segunda-feira, 9 de abril de 2012

SadoMasAmor

      Tudo parecia, comum. Um dia como todo tedioso e repetitivo dia. A felicidade costumeira de estar ao lado da pessoa amada, como todos os dias foram, desde do dia que nos encontramos pela primeira vez. Quando a torturante repetição, de todo dia, ameaçou nosso amor. Um acidente. Um descuido.

      Um pequeno ato impensado, não de minha parte, um reflexo, uma consequência inaceitável de uma briga sem sentido. Um toque de exagerada força, o encontro de sua mão aberta em minha face lisa. A contração dos meus músculos faceais, meus olhos apertados, a surpresa em minha mente, uma dor incompreensível em meu coração.
      Ter a coragem de abrir os olhos e ousar cruzar seus olhos nos meus, e então ver ali, naqueles olhos, no único olhar com o qual me importava, uma confusão, um quase arrependimento e uma pitada de, talvez prazer? O erro! Ver ali uma saída, não somente para a repetição, mas a verdadeira compreensão do por que do costumeiro tédio. Compreender ali, a vergonha de sentir prazer ao exercer tal tipo de pressão destrutiva de corpo com corpo.
      Tempo. Ver enfim a estrutura pontiaguda de aço cirúrgico, adquirido exatamente para esse exato momento, com essa única finalidade. Mirar pioneiramente minha mão esquerda. Sentir a leve pressão de sua ponta super fina sobre minha pele. Olhar para seus olhos recheados de ansiedade, intensificando ao parar nos meus, observadores dos seus. Ver a verdadeira felicidade instalando-se naqueles olhos após ver o meu incentivo para que ele prosseguisse.
      A contagem mental. Três. Dois. Um. Ver todo aquele peso e força direcionar-se e ter a determinação de não desviar. Com um martelo em sua mão e sem pestanejar acertou o prego como se sua vida dependesse disso, abrindo em minha mão um pequeno buraco, um local onde só havia minha carne, agora era preenchida por um metal qualquer. Por mais que eu quisesse me conter, era impossível. Minha boca abriu-se sem que eu pudesse perceber, todo o ar que tinha em meus pulmões saiu de uma só vez. Até arranhando minha garganta ao passar com tanta força.
      Medo, de meus gritos em meio aos gemidos de agonia e dor terem prejudicado a aura que ele necessitava. Mas muito pelo contrário, ele parecia excitar-se e regozijar-se por aqueles sons que saiam de minha boca. Em seus olhos apenas satisfação e prazer, sua respiração era forte, ele transpirava como nunca havia visto. Ele mexeu o prego inserido em minha mão e voltei a perder o controle. O prego entrou por inteiro até sua cabeça lisa encontrar a superfície de minha mão, eu já tremia descontroladamente, não sabia por mais quanto tempo eu aguentaria, quando então, ele beijou minha mão. Um tremor diferente percorreu junto a dor. Pude sentir, toda ternura que ele queria passar pra mim.
      A noite não seria longa o suficiente para todos os pregos que tínhamos a intensão de transpassarmos em mim, mas não desistiríamos tão facilmente. Não sabia qual era exatamente, sexto ou sétimo, talvez. Não sabia mais distinguir meus tremores, seus olhos eram de um amor tão intenso por mim, nunca imaginei que ele pudesse me olhar assim um dia. Meu corpo não podia mais suportar, sentia minha consciência escapando de mim, talvez pelos buracos abertos em meu corpo, mas havia a certeza em mim de que não era a dor física que me distanciava da realidade, mas sim, o desprazer, por ser incapaz de continuar a causar tamanho prazer a meu amado.

2 comentários:

  1. Muito bom o texto, a mensagem me recorda um tempo distante que vivi, como costumava viver sempre que me apaixonava. Aquela dor platônica e ao mesmo tempo saborosa. Mas dar e receber prazer durante a felicidade é um desafio ainda maior, isso é uma garantia.

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