quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Uma nova vida - Cap 2 - Preguiça (Parte 1)

     Não estava triste nem nada do tipo, mas ainda assim me vi sem querer sair da cama, era uma sensação engraçada, por que eu não tinha motivos aparentes de querer ficar na cama e ainda assim me parecia muito bom ficar ali o dia inteiro, sai da cama bem mais tarde do que o comum, fiz tudo bem devagar, me divertia com essa sensação, até pra dar ordens não quis falar. Cheguei no colégio já quase no fim na primeira aula, mas fiz a professora acreditar que estava ali desde o começo, fiquei toda molenga em cima da mesa durante as aulas ante do almoço, mas felizmente na hora do almoço a fome despertou minha disposição, peguei minha comida e já me dirigia a árvore, quase sentei no mesmo lugar de sempre, mas por que não mudanças? Então sentei do outro lado da árvore e não de lado pra ela, mas de costas e a usei como encosto.
- Posso falar com você por um instante. - Falou alguém enquanto eu já estava bem distraída, olhei e descobri que era o mesmo menino do dia anterior, ele já estava sem o gorro e estava com o mesmo cabelo.

- Claro.
- Eu só queria agradecer, por... - Ele gesticulou com a mão direita, girando sobre a cabeça. - E desculpa eu não vou mais te tratar mal.
- Não fui eu que fiz isso, eu não fiz nada.
- Mesmo assim obrigado por não fazer nada. - Não entendi muito o que ele quis dizer. - Aproposito, me chamo Sam. - E ele estendeu a mão, eu já havia visto as pessoas fazendo isso, não entendia seu propósito, mas eu o fiz, segurei sua mão.
- Iris.
- Por que você sempre senta aqui sozinha? - Perguntou ele enquanto sentava.
- Eu respondi essa ontem, gosta mais dessa árvore do que todas as pessoas daquele refeitório juntas.
- Realmente não tem muita gente legal naquele refeitório, mas pelo menos são pessoas, não dá pra conversar com árvores. - Olhei pra ele com uma cara de "tem certeza disso?".
- Se você diz.
- Como assim?
- Não é por que você não as escuta que elas não falam.
- Ok, então você as escuta?
- As vezes, elas não são tagarelas, além do que elas não saem do lugar, então não têm muitas coisas pra falar se nada acontecer perto delas. - Falei com uma cara sínica como se eu estivesse inventando o que estava falando, só pra ver a reação dele.
- Ok... - O sinal do fim do almoço tocou e ele se levantou, e deu um passo no caminho até as salas, mas virou e olhou. - Você não vem?
- Vou depois, não sei por que mas hoje não estou com a minima vontade de me mexer.
- Eita menina preguiçosa.
- Preguiçosa? - Me perguntei bem baixo comigo mesma, então era isso, eu estava com preguiça, eu havia lido sobre isso, mas nunca imaginei que pudesse ser assim. Ri comigo mesma, fiquei feliz por descobrir o que era que eu estava sentindo. - Como sabe que estava com preguiça?
- É o que geralmente todo mundo sente pra ir pra aula. Não é nada muito difícil de se adivinhar.
- Ok. - Levantei e fui pra aula muito mais animada por estar com preguiça.
     No final da aula arrumei minhas coisas bem devagar, não estava mais animada por estar com preguiça, não gostava da preguiça, nada era legal, só dormir, desejava toda hora estar em casa sentada no sofá ou deitada na cama, mesmo que eu não estivesse com sono. Ao sair do colégio já não havia muita gente, eu sempre fui pra casa andando, mas hoje pensei em pegar um meio de transporte como todos os outros, mas me convenci a ir andando mesmo.
- Você vai fazer algo hoje a tarde? - Perguntou alguém atrás de mim. Olhei pra ver quem era, era o Sam.
- O de sempre. - Falei e voltei a andar em direção a minha casa.
- E o que isso quer dizer exatamente? - Perguntou ele andando ao meu lado.
- O que eu faço todos os dia, o jantar, limpo a casa, faço os deveres, sento no jardim, e depois vou dormir.
- Todos os dias?
- Sim.
- Posso te acompanhar?
- Você já esta me acompanhando.
- Se você quiser eu te ajudo com os deveres de casa.
- Não preciso de ajuda nos deveres, eu os faço facilmente.
- Sério? Você não me parece o tipo de pessoa que estuda muito.
- Como assim? Não pareço ser inteligente?
- Não, não foi isso que eu quis dizer, é que mesmo lá na árvore mesmo, você nunca esta lendo nada. E você tem fama de ficar viajando na aula, e nunca responder as perguntas que os professores te fazem.
- Ah, realmente acho que não passo uma ideia de muito estudiosa.
- Então quer dizer que você é uma estudiosa?
- Não. Nunca estudei na minha vida. - Ele começou a rir descontroladamente. - Qual o problema?
- Por que você discutiu tanto se você não era?
- Não saberia muito explicar. - Não entendia muito minhas reações nesse corpo. Ainda mais com alguém tão questionador, ele deveria me explicar todas essas coisas, não ficar me perguntando. Mas chegamos a frente da minha casa.
- Bem, obrigada por me acompanhar.
- Não vai me convidar pra entrar?
- Não.
- Puxa, depois dessa acho que vou embora mesmo.
- Ok. - Abri o portão e ele fez cara de incrédulo enquanto me olhava entrar, entrei e fechei o portão, fiquei com a mão no portão rindo de sua reação. Mas algo me chamou atenção, conhecia bem essa sensação, o condensar e fluir de energia dentro de alguém, do lado de fora do portão alguém estava usando mágica, eu não havia notado ninguém, e com certeza não podia vir daquele menino. Abri o portão de novo a tempo de ver não quem estava soltando, pois não estava se “deixando” ser vista, mas eu sabia que aquilo não iria prestar.

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